
Quando Arthur chegou do trabalho, Lua não estava lá. Carla estava sentada na cozinha segurando uma caixa de lenços descartáveis, Arthur correu até ela.
- O que foi? Por que está chorando? – ele perguntou afoito. – É algo com Lua? Pelo amor de Deus, Carla, responda de uma vez! – ela o olhou com desprezo.
- Ela foi embora. – ela respondeu se levantando.
- Como assim se foi? Do que está falando? – perguntou atordoado. – O que você fez Carla? O que falou a ela que a fez mudar de ideia? – Disse segurando seus ombros.
- NADA! Eu não disse nada! Nós fomos fazer a ecografia hoje, Thu... E o bebê estava morto. – o mundo de Arthur pareceu cair. – Ela decidiu voltar para Guadalajara. Está tudo acabado.
Carla cambaleou até as escadas e subiu até seu quarto. Arthur ficou parado, estático tentando processar tudo. Ela estava bem e de repente tudo mudara. Pegou o telefone e procurou pelo numero de Sophia que Lua dera a eles caso algo acontecesse.
- Sophia?
-Sim. Quem fala?
-Aqui é Arthur Aguiar.. Eu sou...
-Sei quem você é.– ela respondeu friamente.
-Lua está aí? Eu posso falar com ela? – houve silencio do outro lado da linha.
-Ela foi embora Arthur, ligou para nós e disse que estava saindo da cidade e que não queria ver ninguém. Ela estava tão angustiada ao telefone...
Arthur desligou o telefone e correu até o quarto de Lua. Havia um bilhete em cima da cama. “Estou indo embora, seguindo minha vida, por favor, não me procure.” Arthur amassou o papel e o jogou longe, não conseguia acreditar.
Escuro. Úmido. Frio. Vazio. Vozes abafadas passavam pelo teto de madeira... Passos... Passos que faziam com que poeira caísse em seu rosto e penetrasse em seus olhos.
- Foi embora sem te dizer nada? – Melanie perguntava a Arthur.
- Deixou um bilhete pedindo para que eu não a procurasse. Não sei onde ela está e nem se está bem, Mel... Já faz quase um mês, não é possível que ela não dê nenhuma noticia. Eu não sei, mas algo me diz que aí tem o dedo da Carla. Ela estava irritada com o fato de eu e Lua termos nos aproximado e...
- E com razão, não é? Ela é sua esposa, apesar de ser um pouco fora de si.
- É. Talvez... – Arthur abaixou a cabeça e suspirou frustrado.
Saiu da casa de Melanie e dirigiu até sua casa. Chamou por Carla, mas ninguém respondeu. Subiu as escadas e tropeçou no cesto de roupas limpas que ela havia esquecido no meio do corredor. Praguejou e apegou a levando para o quarto. A colocou em um canto qualquer, tirou os sapatos, desabotoou a camisa e caiu na cama, exausto.
- Oi amor, não te ouvi entrar. – Carla disse entrando no quarto.
- E eu não te vi em casa. – ela se jogou em cima dele e lhe deu um selinho. Afagou seus cabelos, enquanto ele não se mexia, perdido em seus pensamentos. Carla se abaixou e beijou seu pescoço.
- Por que está usando o perfume da Lua? Esse não é o seu cheiro. – ele disse, confuso.
- Não é possível. Não consegue mesmo esquecer essa garota, não é? Eu desisto.
Onde ele estava com a cabeça? A falta de Lua estava afetando seu cérebro, e sua mente vivia tentando trapaceá-lo, dando qualquer indicio de que ela estava ali, de que ela nunca havia partido.
Carla pegou a jarra do armário da cozinha e a encheu de água. Pegou alguns cobertores, a noite estava mais fria que as anteriores. Caminhou até a lavanderia e colocou as coisas que havia pego no chão. Ergueu o tapete florido que ficava na frente da máquina de lavar e o levantou. Abriu a porta do porão e desceu as escadas carregando os objetos.
- Eu quero sair... – Uma voz cansada ecoou no espaço.
- Não resmungue, Lua. – Carla disse friamente. Levou a mão a testa de Lua e viu que ela queimava em febre.
- Vou ter que te tirar daqui. Aqui é muito úmido! – murmurou.
Colocou um braço de Lua em volta de seus ombros e a carregou cambaleando para fora do porão. A casa toda estava fechada. Subiu as escadas com dificuldade e abriu uma porta que levava até mais alguns degraus aonde davam para o sótão.
Havia uma cama velha, lá. Carla deixou Lua sob a cama empoeirada e jogou um cobertor em cima dela... Pelo menos ali havia uma pequena janela, mas entrava um fio de luz. Lua encolheu-se na cama e envolveu-se no cobertor com a mão em seu ventre, agora de sete meses... Fazia um mês que Carla a havia trancado dentro do porão.
Lua havia acordado depois de ter adormecido ao lado de Arthur. Ele não estava ali, havia ido trabalhar, Lua supôs. Levantou-se, tomou um banho demorado e desceu para comer alguma coisa. Algo foi colocado em seu rosto. Lua sentiu um cheiro forte e seu corpo amoleceu, sentiu alguém que alguém a segurava para que não caísse até que seus olhos se fecharam completamente. Carla arrastou Lua até o porão e a colocou sob um colchão, ela acordaria em dentro de alguns minutos. Enquanto ela não despertava, Carla subiu e jogou o pano molhado de éter no lixo. Pegou algumas coisas que Lua precisaria e levou para baixo. Alguns minutos depois, Lua sentiu sua cabeça pesar, seus abriram-se devagar...
Carla estava caminhando de um lado para o outro.
- O que está acontecendo? – Lua perguntou. Carla aproximou-se e sorriu.
- Não achou mesmo que eu a deixaria estragar a minha família, não foi Lua? Eu avisei que queria ele longe de você, mas ele não ouviu. Lua, escute bem, você vai ficar aqui até esse bebê nascer, e então eu dou um jeito em você, mas vai ficar calada, está entendendo?
- O que você está fazendo? M-me tira daqui... – ela disse baixinho. Ainda estava sob os efeitos. Lua passara aquele um mês praticamente dormindo por causa das medicações que Carla lhe dera. Lá de baixo podia escutar ambos conversando.
- Como assim foi embora? – Lua escutou Arthur gritar.
- E-estou aqui... – ela tentava dizer... Mas sua voz saia apenas em um sussurro.
Tinha medo daquele lugar, medo de tudo aquilo prejudicar seu bebê, mas sair dali era impossível, ainda mais do jeito que estava. Carla a obrigava a engolir os calmantes, esperava que ela engolisse e abrisse a boca mostrando que havia ingerido.
- Muito bem. – Carla dizia quando acabava de inspecionar. Lua não sabia até quando aguentaria.
Lua chorava baixinho enquanto alisava a barriga. Já se perdera no tempo, não fazia ideia de quanto tempo havia se passado desde que Carla a trancara. Via o sol ir e vir pela pequena janela do sótão. Já faziam alguns minutos desde que Carla levara a ela o calmante, que começava a fazer efeito novamente. Uma onda de mágoa tomava conta de seu corpo novamente. Ela se levantou e tentou caminhar até a porta, mas seu corpo estava cansado, dolorido... Sentia como se todos seus ossos estivessem enferrujados por falta de uso. Caiu ao tentar se levantar. Arrastou-se até a porta e encostou-se lá.
Arthur estava no andar de cima, deitado em sua cama, quando pôde ouvir um baque vindo do teto. Há muito o velho sótão não era usado, sempre esteve fechado. Decidiu subir e verificar. Subiu e parou diante da porta. Nenhum som. Forçou a maçaneta mas estava trancada.
- Tem alguém aí? – ele murmurou.
-Thu...– a voz de Lua estava falha, nada saia além de um simples sussurro. Não conseguia mover seus braços ou pernas, o efeito da medicação se espalhara. Lua colocou a mão na porta e apoiou sua cabeça lá. Arthur desistiu e desceu as escadas novamente.
Lua não sabia quanto tempo mais poderia aguentar.
Carla teve que forçar a porta ao entrar, Lua estava sentada lá, como um peso de papel, sem se mexer. Ela a arrastou até a cama empoeirada e a colocou sobre ela.
- Hora da medicação. – ela disse a Lua. Dessa vez, Lua tentaria passar a perna nela em relação ao comprimido. Carla passou-lhe o remédio e Lua o colocou debaixo da língua. Abriu a boca para mostrar-lhe que havia engolido.
- Muito bem, Lua. Pelas minhas contas você deve estar com oito meses e meio. Já está quase na hora. – Carla disse com um largo sorriso em seu rosto. Deixou-a sozinha e Lua logo se desfez do comprido em sua boca.
Em algumas horas deveria estar completamente acordada.
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